Liderança que não aprende, mesmo em tempos de pandemia

É impressionante como as decisões de muitos líderes pode ser muito parecida quando se trata de situações-problema muito complexos; e elas estão baseadas em paradigmas de falta de aprendizado.

Vivemos em um sistema de liderança que não promove o aprendizado de forma sistêmica e uniforme.

Se olharmos a situação da pandemia no Brasil, teremos diversos exemplos de líderes que tiveram comportamentos e decisões baseadas nas deficiências de aprendizagem.

Cargo x Propósito

Temos um festival de decisões baseadas nos cargos e poucas, nas causas.

Lideranças que focam em ganhar a disputa por quem tem razão ao invés do propósito do bem comum da sociedade.

Liderar pelo propósito significar efetuar escolhas diárias que estão relacionadas ao distanciamento do ego em prol do atendimento das partes.

Se quer saber se está sendo um líder voltado para o sucesso do propósito e não, para o próprio sucesso, se faça as seguintes perguntas, antes de tomar decisões:

Essa decisão ajuda a atingir o propósito de bem comum?
Promove a cooperação das equipes?
Desenvolve as pessoas e desperta uma razão de existência da instituição?
Ou somente atende aos meus interesses de reconhecimento de carreira e imagem?
Não existe sucesso de apenas um lado!

Para o governo federal ter sucesso, por exemplo, o governo estadual precisa ter sucesso também, assim como os governos municipais.

É impossível ter apenas um lado forte de uma ponte para que a travessia para o outro lado seja segura.

A culpa é de alguém

O reflexo da falta de preparo de boa parte das lideranças pode ser visto na reação dos liderados, com o pânico tomando conta da sociedade por conta do vírus, e dos empresários com iniciativas de demissão, talvez precoce.

A falta de uma perspectiva de horizonte gera muita insegurança e instabilidade na sociedade.

Ainda fazendo um comparativo com a atual crise pandêmica, o que assistimos até aqui, foram acusações entre as lideranças (interna e externa), gerando uma polaridade que não busca reflexão das formas de melhorar o próprio processo interno de combate a pandemia.

Imagine se os esforços direcionados pelas lideranças em achar culpados fosse revertido em analisar os próprios processos, como construção de hospitais, compra de equipamentos, materiais de segurança, medicamentos, capacitações, entre outros?

Proatividade ou descontrole?

No livro a “Quinta Disciplina”, de Peter Senge, o professor instiga a seguinte reflexão: “Está na moda ser proativo. Mas será que assumir uma atitude enérgica contra um inimigo externo é ser proativo?”

Temos líderes que aplicam exatamente essa postura em uma sequência de acusações múltiplas entre seus inimigos como forma de assumir o controle da situação e ser proativo.

Qual seria o papel dessas lideranças então? Como eles deveriam assumir o controle de fato em uma situação que parece não ter controle?

Mais uma vez, fazendo analogia aos acontecimentos, o quanto as lideranças estão focadas na produtividade e o quanto estão perdendo o controle com esforços em questões que não relevantes para solução da pandemia?

O maior desafio, por exemplo, está na capacidade de atendimento dos serviços hospitalares públicos e privados. Se todos ficarem doentes ao mesmo tempo o sistema saúde não dará conta e entrará em colapso.
É disso que se fala, em relação à liderança!

Os líderes precisam assumir o controle, de fato, em uma ação conjunta e de aprendizado e não, de ego e luta por poder e quem tem a razão.

Produtividade está relacionada a capacidade de fazer o que precisa ser feito o mais rápido possível e de maneira correta.

Mas o quanto as lideranças estão respondendo a essas questões? Qual é o planejamento estratégico para combate a crise apresentado pelas lideranças?

Mesmo que estas ações existam e estejam acontecendo, elas precisam ser mais claras e nítidas para a sociedade.

As comunicações estruturais são muito importantes porque somente elas abordam as causas das mudanças de comportamento necessárias da sociedade.

A liderança que faz a diferença é a aquela que se comunica de forma estrutural e não por eventos.

Obsessão pelo curto prazo

Nesta crise do covid-19, o que se tem observado é que as lideranças parecem estar muito mais preocupadas com os eventos, tais como: a falta de ventiladores necessários para atendimento as pessoas, mais equipamentos de proteção individual, mensuração do índice de letalidade da doença em comparação as outras doenças.

É claro que esses dados são importantes, mas não são os principais.

As ações necessárias para as lideranças devem ser de resolução do problema, como um todo.

Imagina se tivéssemos cronogramas bem definidos e claros, seguidos de designação de responsabilidades, com análise de riscos e tratamentos de resposta, garantida a qualidade da execução, com alocação das pessoas certas nos lugares certos, considerando as parcerias de fornecedores necessários e a comunicação capaz de tranquilizar a sociedade e gerar esperança? Por que é tão difícil para as autoridades públicas assumirem esses papéis de líderes? Seria preparo? Capacidade? Interesses?

Não se pode evoluir no aprendizado em uma crise tão sistêmica que afeta tudo, desde a saúde, economia, educação, infraestrutura e política com soluções vinculadas a eventos isolados.

Dessa forma a única alternativa que teremos será evitar que os riscos pontuais aconteçam, mas teremos dificuldade de cuidar dos impactos no sistema como todo.

Zona de conforto

Se você colocar um sapo em uma panela quente de uma só vez ele irá pular e não será cozido. Mas se você colar ele em água fria e ir esquentando aos poucos ele vai sentir um conforto e quando perceber o que está acontecendo, poderá ser tarde demais.

Na economia estamos vivendo exatamente esse momento.

A água ainda está morna, mas já começando a ferver muitos negócios no Brasil todo, gerando um comportamento sistêmico de demissões em massa, como um senso comum entre os empresários, mesmo com as medidas econômicas adotadas pelo governo.

Isso pode ser um grande aprendizado para as lideranças, talvez analisando o quanto se postergou em digitalizar seus negócios, em repensar formas mais eficientes e produtiva de executar seus processos e o quanto se tem perdido tempo com questões secundárias e dentro da zona de conforto.

Ter que trocar o “pneu com o carro andando” passa a ser uma realidade de muitos negócios que estiveram como sapos em panelas de águas mornas, vendo as mudanças acontecerem de forma lenta e confortável. Precisou do aumento de temperatura forte para refletir sobre o quanto é necessário pensar em negócios sustentáveis e com capacidade de se reinventar.

Aprender

É um fato que aprendemos com a própria experiência, mas quando isso acontece perdemos a oportunidade de analisar nossas próprias decisões de planejamento e execução.

E quando as consequências de nossas decisões acontecem no longo prazo? Quando líderes tomam decisões que geram consequências além de seus próprios horizontes de aprendizagem?

A tese de aprender com a experiência cai por terra, pois muito pouco ou praticamente nada pode ser absorvido dessa experiência.

A maioria das pessoas tem memória curta, tendo dificuldade de identificar enfrentar a amplitude do impacto das decisões dividindo os aprendizados em eventos ao invés de uma análise sistêmica e complexa como o caso da pandemia.

O quanto estamos passando os aprendizados para frente e formando sucessores para nossas lideranças?
Portanto a pergunta que deve ser feita para sabermos se as nossas decisões estão baseadas em modelos de sucessão é muito simples:

Esta decisão que estou tomando ajuda na prosperidade da organização, independentemente da minha existência, reconhecendo que a verdadeira força está no trabalho em equipe e em uma sucessão tão boa ou melhor do que a minha gestão?

A guerra das competências

Geralmente vemos equipes de líderes defendendo cada uma a sua área de atuação, com o discurso de que todos estão defendendo a causa maior de superar a crise da pandemia.

A crise é sistêmica, não cabendo somente a uma área de atuação ou disciplina em questão. Estamos falando e algo altamente complexo que envolve diversas competências.

De qualquer forma o maior desafio sempre estará na comunicação: uma comunicação integrada e que de fato todos estejam engajados pela causa e não, para os seus próprios interesses de sucesso e poder.

Para aplicar estes conceitos e saber se está fazendo liderança considerando todos os níveis, antes de tomar decisões pergunte-se: esta decisão que estou tomando leva em consideração a opinião de todas as pessoas chave para o sucesso desta ação?

Lembrem-se o sucesso de uns dependem do sucesso de todos.